A Ressurreição de Jesus
Espiritismo kardecista e Espiritismo Cristão é a
mesma coisa. Difícil mesmo é encontrarmos, nesse sincretismo proposto, algo que
possa conciliar Cristianismo e Espiritismo.
Surpreende qualquer um o fato de não haver Allan
Kardec feito qualquer menção à ressurreição de Jesus, no seu livro “O Evangelho
Segundo o Espiritismo”. Ora, a ressurreição de Jesus é doutrina fundamental do
Cristianismo. Se Ele não tivesse ressurgido dos mortos, então não seria o
Messias prometido, e suas palavras não teriam nenhum sentido. Também no Livro
dos Espíritos, os “espíritos” nada dizem a respeito desse assunto
importantíssimo para a comunidade cristã.
Ao contrário, o codificador da doutrina espírita
manifesta sua incredulidade quanto à possibilidade de um corpo morto voltar à
vida, quando declara que …“a ressurreição dá ideia de voltar à vida o corpo que
já está morto, o que a Ciência demonstra ser materialmente impossível,
sobretudo quando os elementos desse corpo já se acham desde muito tempo dispersos
e absorvidos” (E.S.E. cap. IV, item 4). Com essas palavras o Espiritismo
descarta a possibilidade da ressurreição de Jesus.
O Espiritismo Cristão ou Kardecista deveria
aceitar como verdadeiras, por óbvias razões, todas as palavras de Jesus. Quem
afirmou isso foi o próprio Kardec ao dizer que Jesus foi a Segunda Revelação de
Deus; que Jesus foi um Espírito Puro, que veio à terra com a missão divina de
ensinar aos homens. Tais virtudes e títulos colocam Jesus numa condição de
insuspeito em tudo aquilo que nos revelou. Então, vejamos o que Jesus e os
evangelistas disseram sobre o assunto:
“Mas, depois de eu ressuscitar, irei adiante de
vós para a Galiléia” (Palavras de Jesus, Mt 26.32).
“Desde então, começou Jesus a mostrar aos seus
discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muito dos anciãos, e dos
principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao
terceiro dia” (Palavras do evangelista, Mt 16.21).
“E o entregarão aos gentios para que dele
escarneçam, e o açoitem, e crucifiquem, e ao terceiro dia ressuscitará”
(Palavras de Jesus, Mt 20.19).
“Derribai este templo, e em três dias o
levantarei” (Jesus, Jo 2.19).
“Quando, pois, ressuscitou dos mortos, os seus
discípulos lembraram-se de que lhes dissera isso” (Evangelista, Jo 2.22).
“Ele não está aqui, porque já ressuscitou, como
tinha dito. Vinde e vede o lugar onde o Senhor jazia. Ide, pois, imediatamente,
e dizei aos seus discípulos que já ressuscitou dos mortos: (Mt 28.6-7).
Além desses registros, dentre outros, que
comprovam a predição e o cumprimento da ressurreição de Jesus, outras passagens
mostram que Ele falou sobre uma futura ressurreição: “Os que fizeram o bem
sairão [dos sepulcros] para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal,
para a ressurreição da condenação” (Jo 5.28-29; 6.39-40, 44,54). A Ressurreição
coletiva ensinada por Jesus é detalhada por Paulo em 1 Tessalonicenses 4.16:
“Os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro”(v.1Co 15.23); e em
Apocalipse 20.4-5, 12-13, que corroboram o ensino da ressurreição coletiva, no
Juízo. Tais afirmações são sintetizadas em Hebreus 9.27: “E, como aos homens
está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo, assim também
Cristo, oferecendo-se uma vez, para tirar os pecados de muitos, aparecerá
segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para a salvação”.
No livro O Evangelho Segundo o Espiritismo,
capítulo VI-5, Kardec registrou a palavra de um “espírito”, que diz ser Jesus,
nos seguintes termos: “Venho, como outrora aos transviados filhos de Israel,
trazer-vos a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como o
fez antigamente a minha palavra, tem de lembrar aos incrédulos que acima deles
reina a imutável verdade: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinarem as
plantas e se levantarem as ondas. Revelei a doutrina divinal… Mas, ingratos, os
homens afastaram-se do caminho reto e largo que conduz ao reino de meu Pai e
enveredaram pelas ásperas sendas da impiedade. Meu Pai não quer aniquilar a
raça humana; quer que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é,
mortos segundo a carne, porquanto não existe a morte, vos socorrais mutuamente,
e que se faça ouvir não mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a dos que
já não vivem na Terra, a clamar: Orai e crede! Pois que A MORTE É A
RESSURREIÇÃO, sendo a vida a prova buscada e durante a qual as virtudes que
houverdes cultivado crescerão e se desenvolverão como o cedro… Espíritas!
Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. No
Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que
nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos
clamam: (O Espírito de Verdade – Paris, 1860)”.
Esse “Jesus” do Espiritismo trouxe uma palavra um
tanto diferente do Jesus bíblico.
Vejamos:
a) Jesus disse que viria com todos os santos anjos para julgar. Os condenados seriam enviados para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos (Mt 25.31,32,41). O “Jesus” de Kardec disse que “meu Pai não quer aniquilar a raça humana”. É claro. Deus não deseja a condenação de ninguém, mas fará justiça segundo a Sua palavra.
Vejamos:
a) Jesus disse que viria com todos os santos anjos para julgar. Os condenados seriam enviados para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos (Mt 25.31,32,41). O “Jesus” de Kardec disse que “meu Pai não quer aniquilar a raça humana”. É claro. Deus não deseja a condenação de ninguém, mas fará justiça segundo a Sua palavra.
b) Jesus nos ensinou na história do rico e Lázaro
que os mortos não podem ajudar os vivos (Lc 16.19-31). O “Jesus” de Kardec
exorta mortos e vivos a uma mútua ajuda.
c) O “Jesus” de Kardec conclama a todos para não
mais ouvirem a voz dos profetas e dos apóstolos, e sim a voz dos mortos. O
Jesus bíblico, pela história de rico e Lázaro, ensina que devemos ouvir Moisés
e os profetas, ou seja, a Palavra (Lc 16.29). Já ressurreto, recomendou que o Seu
evangelho fosse pregado em todo o mundo (Mt 24.14).
d) O “Jesus” de Kardec declara que a morte é a
ressurreição, tentando com isso afirmar que “com a morte do corpo, o Espírito
liberta-se para o plano espiritual”, o que significaria uma ressurreição. Jesus
bíblico afirmou que a verdadeira ressurreição dar-se-á num momento futuro, e
não logo após a morte: “Pois vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros
ouvirão a sua [a de Jesus] voz e sairão” (Jo 5.28). Aqui Jesus fala de
ressurreição corporal, idêntica à dEle. Ressurreição não é, como entendem os
espíritas, a libertação do espírito. Assim fosse, cada um teria sua
ressurreição individual. Jesus afirmou que haverá um dia determinado para a
ressurreição (Jo 5.25; 6.44,54; 1 Ts 4.16-17).
e) O “Jesus” de Kardec falou de dois mandamentos:
(a) Os espíritas deverão amar uns aos outros; e (b) todos devem adquirir
conhecimento. O Jesus bíblico citou mandamentos diferentes: “Amarás o Senhor
teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento;
amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22.37-40). f) O “Jesus” de Kardec
disse que o caminho que conduz ao reino de Deus é “reto e largo”. O Jesus da
Bíblia disse que “estreita é a porta e apertado o caminho que conduz para a
vida” (Mt 7.14). É evidente que o caminho indicado pelo Espiritismo é largo,
folgado, sem dificuldades: sem pecado, sem inferno, sem juízo final, sem
necessidade de perdão, todos atingirão a plenitude, o clímax, a perfeição,
mediante sucessivas reencarnações.
Os kardecistas, no afã de buscarem na Bíblia
passagens que legitimem a crença reencarnacionista, citam Primeira aos
Coríntios 15.50: “E agora digo isto, irmãos, que a carne e o sangue não podem
herdar o reino de Deus…”. Com isso, tentam convencer que não pode haver
ressurreição corporal. Acontece que fecham a Bíblia muito cedo e não leem o
versículo seguinte em que Paulo diz que “todos seremos transformados”. E tudo
isso é um mistério como bem diz o autor da epístola. Mas a Bíblia permite-nos
avançar um pouco.
A ressurreição é do corpo. Espírito não
ressuscita porque tem vida eterna. Ressurgir significa tornar a surgir. Não se
pode empregar este termo com relação aos espíritos humanos, que não morrem.
Retornando ao mistério, os mortos em Cristo ressucitarão porém num corpo
transformado; um corpo glorioso, poderoso, espiritual, adequado às regiões
celestiais. O corpo será o mesmo que desceu à terra, porém revestido de
incorruptibilidade, de imortalidade. Daí haver Paulo dito: “os mortos
ressuscitarão incorruptíveis” (1 Co15.52). São os mortos que ressuscitarão, e
não os espíritos. A ressurreição dos crentes será a grande vitória sobre a
morte. Assim como Cristo venceu a morte, nós, com Ele, venceremos (1 Co 15.54;
Hb 22.14).
Quando a Bíblia fala em ressurreição dos mortos
está se referindo à ressurreição corporal destes. Vejam: “Assim também será a
ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo em corrupção, ressuscitará em
incorrupção. Semeia-se em ignomínia, ressuscitará em glória. Semeia-se em
fraqueza, ressuscitará com vigor” (1 Co 15.42-43). Mais uma vez temos aqui a
evidência da transformação “dos corpos”.
Com relação ao aparecimento corporal de Jesus
pós-ressurreição, o Espiritismo atribui o evento à ectoplasmia, ou seja, a
capacidade que tem o espírito de materializar-se; e citam como prova Mateus
27.52-53. Nada mais fantasioso do que esse argumento. A passagem apresentada
como prova é um prenúncio da ressurreição coletiva dos crentes, quando da vinda
de Jesus. Lê-se, ali, que os mortos saíram dos sepulcros logo após a
ressurreição de Jesus. Se considerada a hipótese de materializações ou de
perispíritos, não haveria necessidade de os corpos reviverem, porque as
materializações se processariam independentes do corpo morto.
Outra dificuldade do Espiritismo Cristão ou Kardecista
é quanto ao desaparecimento do corpo de Jesus. Onde está Seu corpo? O sepulcro
onde O puseram estava fortemente guardado, segundo a Escritura do Novo
Testamento (Mt 27.64-66). A ninguém interessava roubar o corpo de Jesus; nem
aos seus discípulos, fracos, perseguidos e desanimados; nem aos seus inimigos,
temerosos de que o corpo desaparecesse (Mt 27.64).
Entenda-se que a redenção em Jesus não se limita
ao espírito recriado. Deus deseja que seu plano de redenção alcance todo o
homem, assim compreendido corpo, alma, espírito. Vejam: “E, se o Espírito
daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos mortos
ressuscitou a Cristo também vivificará o vosso corpo mortal, pelo Espírito que
em nós habita” (Rm 8.11); …”e também nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a
redenção do nosso corpo” (Rm 8.23). A trasladação de Enoque (Gn 5.24; Hb 11.5)
e Elias (2 Rs 2.11) confirma a possibilidade da ressurreição corporal.
O mais sensato, porque verdadeiro, é admitirmos
que Jesus ressuscitou corporalmente, apareceu a centenas de pessoas, e virá em
glória, segunda vez, para arrebatar a sua Igreja. Nesta ocasião, haverá uma
ressurreição coletiva dos santos, segundo a Escritura (1 Ts 4.16-17). No final
dos tempos, após o Seu reinado de mil anos, os ímpios também ressuscitarão,
coletivamente, para receberem a condenação eterna (Ap 20.5).
Autor: Airton Evangelista da Costa
Nenhum comentário:
Postar um comentário